Gigantes da tecnologia buscam saída para a computação

A Intel e a Microsoft anunciaram na terça-feira que planejavam financiar dois grupos de pesquisadores universitários para começassem do zero o projeto de uma nova geração de sistemas de computação cujo objetivo seria tirar o setor de um beco sem saída tecnológico que ameaça pôr fim a décadas de melhoria constante no desempenho dos computadores.

Caso o esforço de pesquisa encontre sucesso, possibilitará o desenvolvimento de novos tipos de computador portátil e poderia permitir que os engenheiros de computação resolvessem problemas em áreas diversificadas como o reconhecimento de voz, processamento de imagem, sistemas de saúde e música. Por exemplo, David Wessel, professor de música na Universidade da Califórnia em Berkeley, pensa em uma nova era na qual os instrumentos musicais digitais serão capazes de se equiparar à rica versatilidade de instrumentos acústicos como violinos e pianos.

As verbas de pesquisa no valor de US$ 20 milhões em cinco anos permitirão a criação de laboratórios independentes em Berkeley e na Universidade do Illinois, em Urbana-Champaign, para mapear meios de reinventar a computação. Os dois trabalharão em hardware, software e em uma nova geração de aplicativos acionados por chips de computador contendo múltiplos processadores.
A Universidade do Illinois planeja contribuir com US$ 8 milhões adicionais ao projeto, e em Berkeley os dirigentes solicitaram verbas adicionais de US$ 7 milhões a um projeto estadual que oferece verbas casadas de pesquisa para programas financiados pelo setor privado.
O setor de computador em termos gerais abandonou sua dependência quanto a aumentos regulares na velocidade de processamento dos chips. Nos últimos anos, a aposta é de que os futuros avanços em termos de velocidade e eficiência energética surgirão do uso de múltiplos processadores em um único chip de silício. Quando isso acontece, diversas funções de computação podem ser realizadas em paralelo, em lugar de seqüencialmente.

A nova agenda de pesquisa foi motivada em parte por uma crescente sensação de que o setor enfrenta uma espécie de crise, já que o software avançado para processamento paralelo não vem sendo desenvolvido rapidamente. A maioria dos programadores atuais continua a escrever software que resolve problemas seqüencialmente.

No momento, os microprocessadores de uso comercial mais avançados já oferecem até oito processadores, ou núcleos, em um só chip, mas o setor está a caminho de chips com 100 ou mais processadores. O problema, de acordo com pesquisadores acadêmicos e executivos do setor, é que o software que acionaria dezenas de processadores simultaneamente para resolver toda sorte de problemas de computação ainda não existe.
Ainda que o montante da verba de pesquisa seja modesto, ambas as universidades são conhecidas por pesquisas de estágio inicial que exerceram impacto considerável sobre o setor de computação. O diretor do novo Centro Universal de Pesquisa de Computação Paralela em Berkeley, o cientista da computação David Patterson, já esteve associado a conhecidos avanços em design de microprocessadores e sistemas de armazenagem de dados. O laboratório da Universidade do Illinois será comandado por Marc Snir, professor de ciência da computação, e por Wen-mei How, professor de engenharia elétrica e da computação. Um dos pesquisadores do laboratório será David Kuck, da Universidade do Illinois, pioneiro no campo da computação paralela e hoje pesquisador da Intel.

Patterson começou a alertar sobre a iminência de uma parada no desenvolvimento há diversos anos. "Três anos atrás", diz, "avisamos que o mundo mudaria, e que era preciso agir a respeito".
Wessel, o professor de música, disse que costuma usar três laptops em seus trabalhos de composição, a fim de dispor do poder de computação de que precisa. "Não consigo processar tantos dados quanto necessito, em meu laptop", diz.

Boa parte das discussões do setor tem se concentrado na computação centralizada, ou "em nuvem", nos últimos anos. Mas os novos laboratórios de pesquisa se dedicarão, em lugar disso, a obter novos avanços em sistemas móveis de computação. Os novos sistemas serão projetados pata realizar tarefas que os computadores atuais teriam dificuldade para realizar, como o reconhecimento de gestos e fala humana. Um sistema avançado de computação em paralelo também ajudaria os cientistas a criar browsers capazes de obter dados complexos com maior rapidez, processá-los e exibi-los.
As duas equipes de pesquisa foram selecionados com base em candidatos inscritos por 25 universidades dos Estados Unidos. Executivos tanto da Intel quanto da Microsoft disseram que as verbas de pesquisa eram apenas uma solução parcial para preencher o vazio deixado pela ausência da Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa (Darpa), do Pentágono, que ao longo do governo Bush tem se concentrado mais em projetos militares e sigilosos, reduzindo as verbas para pesquisa pura que costumava conceder a universidades.

"A comunidade acadêmica jamais se recuperou completamente da retirada das verbas que a Darpa costumava fornecer", disse Daniel Reed, diretor de computação coletiva e de múltiplos núcleos da Microsoft, que supervisionará o envolvimento da empresa com os novos laboratórios de pesquisa.

** fonte: site terra.com.br março/2008

Abraços

Julio Cesar